top of page
Maria Augusta Vilarinho

Canais

Ampliando fronteiras

 

"Quando há vinte anos fui procurada por dois deficientes físicos para criar uma instituição que defendesse seus direitos, fiquei surpresa diante do seguinte paradoxo: pelo menos 5% da população tinha (o percentual se repete os dias atuais) algum tipo de deficiência e mesmo assim onde estavam estas pessoas? Percebi de imediato que estavam presas a determinadas fronteiras.

 

A primeira fronteira era territorial. Estas pessoas estavam limitadas ao espaço das suas residências, das quais não saiam ou saiam muito pouco. A sociedade, a comunidade se resumia nos seus familiares, aqueles que estavam ao seu redor. A segunda fronteira mais sutil e, portanto, até mais limitadora, era a relacionado ao preconceito existente na comunidade que não aceitavam de forma natural aquele que era diferente nas suas limitações, embora ser humano como qualquer outro."

"A terceira fronteira era relacionada aos direitos que estão na Constituição. A atenção da rede pública para atendimentos de saúde, educação, direito ao trabalho, à benefícios sociais e econômicos disponíveis para todas as pessoas, sem exclusão de ninguém. Evidente que nem todas estas questões ficaram claras de repente, pelo contrário foram sendo reconhecidas a partir do momento que decidimos inaugurar a ABAVIN e vencer a primeira fronteira: territorial. Nesse momento as pessoas que tinham alguma deficiência começaram a ter um novo local para conviver com outras pessoas. Pessoas que tinham problemas semelhantes, queriam conversar, queriam se relacionar, fazer parte de um contexto social. Foi a primeira vitória da ABAVIN. Ao reunir as pessoas num local lançamos a pedra fundamental que define a instituição: integração social. Uma discussão que hoje parece banal, na época não era.

 

Ampliamos a fronteira territorial e o conceito  de integração. A primeira unidade foi no bairro Bom Jesus, a segunda unidade foi na Avenida 27, a terceira na Rua 6 e finalmente chegamos aonde queríamos: no centro da cidade. Onde se concentravam todos os serviços, comércio, bancos, hospitais, farmácias, etc e onde tinha gente de todos os lados experimentando pela primeira vez o contato com aquele que é diferente, mas semelhante. Foi um achado porque mais interação e integração ajudava a discutir a segunda fronteira: a do pré conceito, que era mais sutil. Vencê-la exigia um desafio contínuo para mostrar que todos são capazes, bastando para isso dar condições de convivência solidária. E nessa luta quem exerceu um papel fundamental foi o próprio deficiente ao mostrar sua capacidade de participar da sociedade em todos os níveis educacional, cultural, artístico, trabalho, mesmo considerando suas limitações.

 

Nesse contexto a ABAVIN soube entrelaçar projetos e atividades, incluir profissionais com competência técnica comprovada e mobilizar o deficiente para além das suas limitações indo em busca de educação, de cultura, de arte, de conhecimento em geral que o tornam livre para ser quem é e ao mesmo tempo livre para interagir, integrar e mostrar a todos a sua capacidade. Foi trabalhando nessa trilha que conseguimos romper a fronteira do pré conceito, da visão muitas vezes limitada que as pessoas tinham do deficiente. Sensibilizamos com essa atitude a comunidade e rompemos a terceira fronteira trazendo a rede pública de atendimento para participar como parceiras desse processo. Não é por acaso que temos do nosso lado a prefeitura municipal, as secretarias de educação, de assistência social, de saúde, além dos conselhos de assistência social e do idoso, que participam contribuindo para que a cidade de Barretos seja pioneira na região na atenção dada a pessoa com deficiência.

 

Não é por acaso que a sociedade sempre colabora quando é chamada a participar. E não é por acaso que o projeto Redescobrindo o Aprender criado dentro da ABAVIN, destinado a educação de crianças com maior dificuldade de aprendizagem cresceu, criou asas e deu origem à Unidade 2. Esta uma nova fronteira que a ABAVIN soube gestar, criar e colocar a disposição da educação e da sociedade. Temos mais sonhos? Com certeza que sim. Conviver com o diferente nos garante uma certeza: nada é impossível. Afinal, nem a lua precisa do corpo inteiro para encantar o mundo!"

 

bottom of page